segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bem-vinda, loucura nova

É insensatez acreditar que podemos conquistar tudo, visto nosso tempo que se reparte de vez em vez?
É loucura fingir ser poeta, querer uma boa prosa e ter um soneto como meta?
É querer demais ser sonhador, construir um navio imaginário em direção ao seu invisível cais?
É indescritível o meu jeito de estudar a vida pelas entrelinhas e tornar o mau momento esquecível?
Pelo jogo de luzes e cores no céu no momento de mais esperança do tempo: a virada. Esperou-se 365 dias por aquilo. 365 sementes de esperança lançadas no terreno fértil e trêmulo daqueles que esperam o último dia para dizer que tudo valeu a pena e divagar por novas promessas e desejos de sucesso de mais um vindouro e tão prazeroso futuro demarcado por 12 meses. Que se atrelem os sonhos e se liguem as imaginações: construirão um complexo passageiro que trará experiências e recordações.
E não é ser dissimulado aquele que viaja nas ondas do momento construindo um novo ano enquanto os ponteiros do relógio ficam juntos para indicar o seu início.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Assopro

O calor sopra...

E com ele o cheiro bronzeado. Era deslumbrante o seu caminhar rumo ao pôr-do-sol. Seu afago era aconchegante como a mais fina areia daquela praia. Queria que me considerasse o brilho que seus olhos jamais tiveram, mais reluzente que o do sol.


As folhas sopram...

E com elas a brisa que nos acalentava. Tinha o domínio completo das minhas emoções, salpicava-me de conselhos e brincava de contente como o vento que adorava desarrumar o organizado. Queria que ele me compusesse como a melodia que faltava pra sua música.


O frio sopra...

E com ele a sensação do meu coração em estátua. Resolveu olhar ao lado e notar alguém mais gélida que lhe atraia. Levou consigo o calor do amor, ao passo em que desejava ainda que me notasse como materialização da sua poesia.


As flores sopram...

E com elas a certeza de algo novo. O desabrochar das pétalas me causaram a impressão de renascer junto delas e exalar um perfume insistente e agradável. Nada era pra sempre, apenas a verdade do início repetido. Mesmo assim queria que me guardasse no pólen nostálgico do seu coração.


Um dia descobri que é preciso dar um sentido humano ao objetivo da vida. E que quando isso não der certo, acabou de abrir uma nova oportunidade de recomeçar.

A vida sopra...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Me deixo

Me deixo com a leveza de uma brisa que não diz a ninguém aonde vai, mas tem traçado o seu caminho a um lugar incerto; com a minha solidão. Que ela me faça companhia só enquanto eu precisar. E que ela exista só por uma fraçao de piscar. Me deixo com a coragem de me enfrentar, com o tempo que me resta para transformá-lo em vida, com as minhas quatro estações que, juntas, me compoem a esmo. Me deixo sem precisões, sem definições. Que o céu me transcenda até além do local aonde eu pise e sinta que ainda tem chão e que seu encanto me empurre e que eu vá alto, e que eu cresça. Me deixo com a firmeza do vôo: que saia de mim aquilo de você enquanto eu estiver pelas nuvens. Quero brincar com seu sorriso, mas não quero ele em mim. Quero enxergar o que me resta, mas não com os seus olhos. E que você me faça feliz mesmo de longe. Vou aplaudi-lo enquanto estiver sendo a estrela de seu próprio palco. Nessa hora vou estar me deixando por aí e me livrando dessa agonia em não te ter por perto. Melhor assim. Como os grãos de areia que não se dissolvem no mar, mas precisam dele para a sua beleza, quero morar em você mas me refazer no amor. Me deixo sem deixar de você. Me deixo com os pensamentos alheio. Me deixo por sua conta: já sabe como me deixar vulnerável mesmo. Me deixe com saudades, me deixe de verdade. Me deixo com a certeza de que nunca vou te deixar. Me deixo com um paradoxo anormal da minha inconstância.E vou me deixando ao caminhar sem lhe ter ao lado. E te deixo sem me queixar.

E me deixo sem saber amar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ilegal

Seja indiscreto mesmo.
Guie meus versos, dê rumo às poesias.
Chegue a hora que quiser, vai ser tratado bem, mesmo que te considerem vil.
Nasça, brote.
Sempre terá espaço para uma raíz sua mesmo que escondidinha. Crescerá, será forte e dotado de magnitude. Brincarão com você e não te largarão nunca.
Não peça licença, por favor.
Um dia irão te culpar por toda a dor que estarão sofrendo, mas saiba que você não é o causador disso. E sim o remédio.
Sei que é educado, chega de mansinho.
E quando se percebe, já nos inundou até o nível em que não se dá pé. Só que é sábio: nos ensina a nadar.
Rompa barreiras, vá, quebre paradigmas.
Tem o poder de entrelaçar sentimentos, aproximar pessoas, fazer dois virarem um só. Preenche a concha vazia da solidão, anestesia dores.
Sim, manipule quem quiser.
Provoque sedes, simule beijos, hidrate a alma. Nada do que fará será supérfluo.Faça alguns corações pararem de bater por alguns segundos ou os faça pulsar descontroladamente. Faça os cheiros dos amados serem percebidos a quilômetros.
Se faça acontecer... Morra de amor, Amor.

sábado, 21 de novembro de 2009

Fixação

Quero
Que meu suspiro te convença
Que ser incerto não compensa
E que a distância carrega dor
Apesar do amor que acompanha o vento
E que se renova a todo o momento
Como a onda do oceano em vapor

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sábia loucura

Aprecio os sentimentos avassaladores. As idéias complexas. Os pensamentos insanos. Os significados mais fortes. Não tem graça viver deixando-se levar no embalo da correnteza vital, anseio por nadar contra ela e deixando passar por mim apenas os galhos que se colocam às margens do meu coração. Não sei medir meu trajeto, arquitetar um sonho. Meus planos sempre são levados pelo temporal de contratempos que chegam de repente. Minhas idéias sempre entram em metamorfose à medida com que absorvo o filtrado dos meus amores. Anseio por quebrar meu silencio interior. Agito quando percebo que a solidão quer me fazer companhia. Dou boas-vindas à coragem, entrelaço-me na ventania que me carrega. Recebo em meus braços o êxtase do sucesso. Tenho voracidade pela felicidade. Exclua-me de definições: nunca terei o mesmo encanto, mas o encanto sempre terá o mesmo brilho, por maior ou menor intensidade que demonstre ter. E quando eu estiver à beira do precipício? Me empurre. Eu adoro voar!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Entre grãos e gotas

Deixando seus cabelos serem penteados pela brisa, ela foi caminhando à beira-mar. Aquele silêncio era o barulho que ela mais anseava na ocasião. Era o típico momento em que precisava ser embalada no ritmo daquelas ondas que lhe serviam de companhia por todo o trajeto. Um dia ouvira falar que tudo o que é bom é intocável. Não se podia tocar na alegria ou acariciar a esperança, mas ali ela podia contemplar algo muito tocável nas margens de um infinito deslumbrante quase concreto. Também ouvira falar que o amor é impontual: chega sem aviso prévio e, de repente, causa uma metamorfose aconchegante. Mas desacreditou nisso quando percebeu a insistência do pôr-do-sol dentro de seus olhos, pontualmente na pupila. Um reflexo que incomodava de uma maneira especial. Aquele astro tinha a total imponência de chegar sempre na mesma hora e fazer cenários de amor como nunca existiram antes. Da mesma forma lembrou que, por muitas vezes, havia dito que não era influenciável por ninguém e que as pessoas eram muito mais autênticas criando uma personalidade única. E assim veio o luar para desmenti-la. Conforme a sua fase, a lua modifica o mar e altera seus movimentos nas estações, tornando-o muito mais autêntico que qualquer outra raridade natural. Aquela influência era o que o tornava único. A cada estrela no céu era o significado de algo novo pra ela: nunca lhe diriam a verdade completa, mas cabia a ela lapidar seus momentos para brilhar um dia. A razão era simples. Uma vez lhe disseram que a vida era a totalidade de tudo o que ela deveria aprender, mas agora sabia que a vida não tem um mapa a ser seguidos, padrões definidos ou escalas a cada fase. Ela é sempre mais que a quantidade de grãos de areia que lhe passam. É apenas a metade de tudo que lhe dizem por inteiro.

sábado, 7 de novembro de 2009

É seu.

Se pudesse escolher meu destino a partir de agora, hoje eu decidiria que você revolucionaria meu coração.

Primeiro analise, estude-o.

Vá ao movimento das marés: repentinas, lentas e frágeis. Seja cuidadoso ao manipulá-lo. Como um vento de outono, ele é silencioso e até meio frio, carrega consigo várias folhas dos lugares por onde passou... mas vai as soltando à medida com que avança nas estações. Ele não funciona com peças antigas. Se quer arrumá-lo, coloque sempre um combustível novo e lhe transmita virtude para não comprometê-lo. Às vezes ele fica cansado e meio pálido, mas funciona até quando achar que seu retumbar está escasso. Ele vai longe, sofre turbulências, além do permitido. Ainda assim consegue ser frágil e carregar diamantes quebradiços. É um dos meus bens mais preciosos: cuide dele. Não é à toda brisa que encontra um desses, muito menos procurando nas muitas árvores da estação. Ele está lá no topo, meio invisível, mas o alcancei pra você. Ele está desacelerado, quieto, deixando seu marcapasso fazer eco. Respingue seu sorriso e o faça ter vida: ele precisa pulsar e multiplicar o amor.

sábado, 31 de outubro de 2009

Sem importância

Freei a minha impossibilidade de sonhos para ir de encontro aos seus.
Cada piscar seu refletirá em um sorriso meu.
Quero fazer da sombra do seu olhar meu refúgio até conseguir me desvincilhar do seu abraço que tem o poder de afastar tormentas.
Colocarei empilhadas as saudades que sinto para poder subir até aonde você se esconde de mim. Insisto em te arrancar afagos, mas seus suspiros é que me impulsionam a encaixar os pedacinhos de vida à perfeição de flor.
Nada importa: o vento passa e me conduz para perto de ti e você acha banal.
Ache!
Nada me faz mais feliz do que compartilhar banalidades contigo: transformarei em amor.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"...sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão."

Poucos acontecimentos lhe completavam, poucas pessoas lhe satisfaziam, poucas atitudes lhe alegravam. Não que ela fosse extremamente exigente, mas zelava pela qualidade de sensações. Um abraço seria prazeroso de poucos alguéns que fossem realmente indispensáveis. Um beijo só era possível se fosse de um verdadeiro amor. Uma longa conversa só não seria perda de tempo se fosse compartilhada com alguém muito especial. Um sorriso só teria efeito vindo de um semblante sincero. Saudades só seriam concretas se fossem sentidas constantemente. Só que nem sempre a vida se desenrolava de uma forma tão peculiar. Sim, ela era cheia de contratempos, indecisões, agonias e frustrações. Repleta de pessoas sem sentido, atitudes intoleráveis e situações desagradáveis. Não eram constantes as que lhe faziam feliz, mas ela sabia que assim era pra ser. Tudo devia acontecer naturalmente, cabia à ela ter paciência para novos dias e novos acontecimentos. Paciência e perseverança tem o efeito único de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem. Talvez elas fossem mesmo as maiores virtudes. Nada de especial acontece, nenhum objetivo se alcança, nenhuma pessoa se transforma por completo caso não haja persistência e paciência naquilo que se almeja. Nenhuma grande conquista foi atingida sem paciência. Ninguém é totalmente compreendido por outra pessoa sem paciência para ouví-lo, ninguém atinge a felicidade se depois de muito errar, não tiver paciência para arquitetar novos rumos para chegar numa realização plena. Ela sabia, porém, que o mundo não girava ao seu redor e que tudo não iria conspirar a favor de todos os seus sonhos, mas ela tinha paciência para esperar que aquele cubo mágico fosse se encaixando nas cores corretas e mesmo que por várias e várias vezes cada quadradinho tivesse que voltar ao seu lugar errado, ele estaria esperando ser manipulado novamente até que encontrasse todos os pedacinhos que deveriam estar ao seu lado. Só que ao contrário desse cubo, sua vida nunca estaria com suas 6 faces completamente montadas e com sua devida cor. Ela sabia que sempre teria algo fora do lugar, algo a ser mexido, nem que fosse apenas um intruso no seu lugar errado. Então ela esperava que algo viesse e mexesse aquele cubo todo para colocar o estranho na sua devida face, e assim cada face da sua vida ia se reconstituindo, doía, mas era necessário para uma perfeição completa. Cada área é diferente e com suas características, mas em conjunto elas compõem uma vida só e que estando uma fora do lugar, todas as outras sofrem e precisarão ser mudadas. Para isso é preciso paciência, perseverança. E para conseguir entender isso, foram muitas e muitas reviravoltas no cubo, muito tempo perdido e muita paciência para entender a paciência que deveria ter com a vida. Nada será perfeito, o que lhe fará feliz é a sua tolerância com os defeitos que lhe aparecerão. E agora sim ela entende mesmo que a "esperança é a última que morre", talvez porque essa tal de esperança seja aquela com mais paciência de que já se tenha notícia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Costume

Já dizia Mário Quintana: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas(…)”. Eu sei que somos todos adaptáveis a qualquer circunstância, por mais que demore ou seja um pouco dolorosa, nossa capacidade de se adequar extrapola os limites do entendimento e talvez seja isso uma das maiores provas da nossa inteligência. Nos acostumamos com situações agradáveis, pessoas complicadas, ambientes estranhos e estilos diversos. Todo mundo sabe que toda hora precisamos nos acostumar. Eu sei que a gente se acostuma, mas não deveria ser em todo assim.

A gente se acostuma a viver em apartamentos minúsculos, a apreciar a natureza por janelas. Como a natureza barulhenta tomou conta da bela paisagem, nos acostumamos a nem querer tocar mais nas cortinas. De repente, o sol já não entra mais e passamos a viver na luz artificial, encolhidos em um canto escuro, sem ter noções da amplitude do que está nos esperando ao redor da nossa redoma.

A gente se acostuma a depender do despertador, a acordar assustado porque o atraso insiste em perturbar. A gente se acostuma a comer rápido, se vestir como sempre, não cumprimentar ninguém e a resolver problemas que só trazem consigo mais complicações.

A gente se acostuma a ver os noticiários e achar a guerra normal e as desigualdades corriqueiras. A gente se acostuma a trabalhar sempre mais para ganhar sempre menos, a se dedicar sempre com mais afinco para receber algo sempre menor em troca, a ser exigido mais e valer sempre menos do que o real.A gente se acostuma com a tristeza e com o fato de algo não dar certo.

A gente se acostuma com algo sujo para não ter que limpar, a aceitar humilhações para não arranjar uma briga, a exercer um labor pesado se consolando com o final de semana. E quando o fim de semana chega para esquecermos do cotidiano explorador, ele sempre é monótono e acabamos o domingo dormindo cedo para começar tudo outra vez. O sono estava atrasado mesmo não é? A gente se acostuma com isso.

A gente se acostuma a amar menos, abraçar menos, demonstrar menos afeto. A gente se acostuma a desconhecer quem vive ao nosso redor e a conhecer mais o jornalista da televisão que me informa das desgraças diárias. A gente se acostuma a não cumprimentar ninguém, a tratar com frieza quem precisa do nosso olhar e recusar uma ajuda.

A gente se acostuma a achar que tudo vai acontecer amanhã, apesar de fazer tudo para ontem. A gente se acostuma a achar que é amanhã que não teremos mais problemas e que amanhã é que nosso mundo vai melhorar. Que amanhã é que a neblina que me impede de realizar meus sonhos vai sumir. Que é amanhã que decidiremos ser felizes.

Mas a gente não se acostuma a pensar que não existe amanhã. Quando eu me encontrar com quem amo vou dizer que estou lhe encontrando hoje e não amanhã. Não dizemos que é amanhã que estamos fechando um bom negócio e sim hoje. Não é amanhã que me faz feliz e sim o momento chamado "agora". Não estou sorrindo amanhã, estou sorrindo agora. E não vai ser o amanhã que vou viver, estou vivendo agora.

A gente se acostuma a poupar o tempo, a poupar a vida. E daqui a pouco é a vida quem vai querer nos poupar por não darmos a mínima para ela.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A vida ensaiada

Era sereno e secreto. Exalava um perfume amadeirado, um andar desajeitado e um coração quebrantado. O mistério mais profundo de alguém é aquele o qual não conseguimos desvendar por mais profundo que seja o nosso olhar ao seu interior. Era dono de uma face neutra, sem expressões extremas, mas possuía um baú de sentimentos completamente dotados de uma vontade plena de saltar aqueles impedimentos e ser apresentados em público.Ainda assim, seus pulsares ao adentrar aquele ambiente com a acústica perfeita e com um piso que ecoava o som das solas de suas botas surradas pelo tempo, eram audíveis em uma melodia uníssona. Foi ali o lugar do seu primeiro sorriso completo. Aquela cortina vermelha era o único obstáculo entre ele e as pessoas que gostaria de retirar. Os degrais, sua única forma de sentir-se alto e visível. Já o palco, ah o palco! O palco era seu habitat natural, a fonte da sua vitalidade e o único lugar onde poderia ter qualquer personalidade, vestir-se de qualquer caráter, assumir qualquer postura e errar, acertar, sorrir ou chorar sem sofrer de verdade. Era ali em que vivia a vida que mesmo traçava, tomava as próprias decisões e escolhia as consequências para cada escolha feita. O público era seu melhor amigo. Por mais desconhecido ou não, era o único que lhe assistia por estar interessado na sua atuação de forma verdadeira e que lhe julgava só após de ter conhecido o desfecho, não pelo início.

Foi assim que decidiu que nada o arrancaria dali e que nos próximos minutos, sentaria à beira do tablado, olharia ao horizonte finito das poltronas e criaria sua vida. Deixaria que suas pálpebras fizessem o plano de fundo de sua peça. Imaginaria um musical no qual seus atores são todos os protagonistas de sua vida e cada cena teria um final feliz. A trilha sonora seria de um compositor desconhecido e o figurino não importava. Teria um maestro invisível com uma batuta regendo uma orquestra estrondosa que geraria um ultrassom fascinante, por mais inaudível que fosse. O que valia era agradar a platéia, composta de inúmeros eles. Por fim, o maestro lhe entregaria um relógio, dizendo que as horas haviam parado e que o tempo seria contado pelas batidas do seu coração de forma inversa. Quando acelerasse de emoção, tudo seguiria mais devagar para ser melhor aproveitado. E esse seria o desfecho, uma multidão inexistente aplaudindo-o de pé por um tempo infindável.

domingo, 18 de outubro de 2009

Saudade: Substantivo composto

Meus olhos se abrem e, meio embaçados, enxergam que mais um dia insistiu em me cutucar para acordar e contemplá-lo. Mal decido espiar as nuvens para ver o que elas reservam ao meu guarda-roupa e já me dou conta, que, sem querer eu vou precisar optar em cada detalhe do que me acontecerá a partir do momento em que desentrelacei meus cílios. São minhas escolhas para hoje que decidirão se, em breve, eu me lembrarei dele como um passado valioso ou não.Sempre caí na rotina, mas agora eu decidi que, pelo menos hoje, eu vou analisar o que valeu a pena e viver algo diferente.
Abri a minha interna caixa de recordações e a inevitável saudade saltou dali me presenteando com um mosaico de sensações.
Saudade. Há quem diga que saudade é apenas um sentimento, já eu penso que saudade não tem definição completa, cada um tem a sua e se assim não o fosse, ela não seria tão explorada pelos poetas e amantes. Para mim saudade é se alegrar com quem um dia esteve ao meu lado, sofrer por não ter aproveitado tanto aqueles que eram importantes e eu não dava o devido valor, é se alegrar com doces recordações.
Saudade é sentir uma agonia, um sofrimentozinho desesperado quando marcamos de fazer/rever algo ou alguém que alicerçou uma fase da vida. É conseguir sentir o cheiro de um perfume, relembrar um olhar apaixonado ou ter a esperança de um dia tudo voltar ao que era. É praticamente tocar um momento adornado de recordações.
Saudade é a comida da avó, o cheiro do avô, a primeira vez em que alguém me deu a mão, retratos, vozes. Talvez seja a infância a dona da minha maior nostalgia. A época em que não possuía responsabilidades, em que optava apenas por presentes e não possuía preocupações quanto à minha forma de expressão.
Saudade é o primeiro beijo, o primeiro amor. É uma paixão adolescente que se ilude com promessas de "sermos felizes para sempre". É um aprendizado constante, são as amizades marcantes, os erros, as conquistas, as alegrias, as tristezas, os medos de fracassar e os sorrisos de um sucesso.
Tenho saudades daqueles que nunca mais vi, daqueles que eu vi ontem e daqueles que não conheço, mas que me serão indispensáveis um dia. Tenho saudades do passado. Mas também tenho do meu futuro, pois sei que mesmo planejando com perfeição, ele nunca será completamente como seu sonhei.
Tenho saudades de resgatar algo que eu mesma deixei escapar. Tenho saudades em qualquer situação, dentro de qualquer lugar, falando qualquer língua: a minha saudade é poliglota, mas aprecia a boa denominação brasileira. Ela não acha que um simples "I miss you" defina seu completo significado.
Talvez para alguém saudade seja a força que impulsiona a vontade de reconstruir a parte que valeu a pena. Para mim, ela é apenas a força de expressão que indica se tenho lembranças as quais desejo manter ou esquecer e que, quando preciso, carrega uma nostalgia que aperta o peito, mas é deliciosa. Saudade para mim não é o desejo de reviver, e sim de viver um presente da melhor forma, com tudo de mais inesperado. A emoção está em planejar um futuro e ser levado a um caminho completamente diferente, se aventurando em situações sem nenhuma estratégia de controle. Viver um novo amor esperando que seja para sempre. Aprendendo como se fosse viver mais 200 anos. Fazer amizades como se fosse viver apenas mais 1 minuto. É fazer valer a pena cada oportunidade que a vida me trouxe, não que eu tenha decidido buscar na memória. Aquilo é passado e se não deu certo, tem algo mais atraente me esperando e que, muito em breve, fará meu passado crescer emoldurado de prazer.

sábado, 17 de outubro de 2009

Somewhere over the rainbow

Vivia numa neblina cinzenta introduzida numa prisão aberta. Ela queria sumir dali. Simplesmente queria tecer um fio inflexível do seu recomeço e estendê-lo até a janela de algum lugar bem longe. Era esperançosa, ávida, corajosa. Possuía toda a capacidade de erguer-se ante qualquer situação que tentava lhe derrubar. Sabia que passava por um momento transiente, mas não possuía a obrigação de se acostumar com aquilo, apesar de saber que uma mudança estava distante dos planos daqueles que diziam estar sempre com ela. Por essa razão ela sentou-se na sua cama e arquitetou por horas um lugar que seria o melhor do mundo. Será que existia? Um lugar que aninhava uma multidão de pessoas todas ligadas por uma amizade e um elo familiar de verdade? Um lugar sem mágoas, sem rancor, sem pressões? Um lugar onde ela poderia brincar o dia todo, falar alto e não se preocupar com métodos?Certa vez ela ouvira falar que existia um lugar assim, dos sonhos. Mas era longe, atrás das nuvens. Lá moravam anjos e um Ser Superior muito amoroso e acolhedor. Era para lá que queria ir, mas sabia que ia demorar um pouco. Então imaginou o seu melhor lugar do mundo aonde ela iria viver intensamente.. Mesmo sabendo que era apenas pelos próximos minutos, se conformou com a idéia de viajar no pensamento e buscar um ânimo que a faria encarar a realidade em seguida. Foi o que fez.Pensou, pensou, planejou, mediu, sonhou. Mas nada. Nenhum lugar se encaixava nas suas condições. Meio que sem paciência, ela desistiu e ficou olhando o teto, ao som da chuva que ia cessando devagarinho. Aquele som a fez levantar, abrir sua cortina e contemplar a imensidão celeste. A chuva quase que imperceptível foi sendo abraçada pelos raios do sol, montando um lindo cenário. Mais fascinante ainda foi quando o Sol, afastando mais as nuvens, trouxe consigo a maior aliança que a garota já havia conhecido. Era surpreendentemente monumental, percorria todo o diâmetro do local e o coloria sutilmente, como um lindo arco que brilhava na sua íris.Ela lembrou-se da história que sua avó lhe contava sobre ele. Dizia que além daquela paisagem estava um pote de ouro. Se havia um pote de ouro além daquela estrutura tão magnífica, então imagine o quão bonito não era lá? Imagine os moradores? E o clima amável que não se concentrava por lá?Sim, ela havia achado o seu melhor lugar do mundo: além do arco-íris. Era ali que o vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e o violeta iriam se refratar nela, fazendo seu coração brilhar e projetar a felicidade. Ela iria descobrir que aquele pote de ouro era a riqueza do lugar e ali se depositava todos os sonhos de cada um dos moradores para que, cada vez que o arco-íris resolvesse aparecer, alguém do mundo lembrasse que eles existiam e que um dia sairiam dali para se realizar e virar uma estrela no céu. Além disso, ela iria aprender que o arco-íris é raro pelo simples fato de ser considerado especial e que se fosse para aparecer rotineiramente, perderia seu encanto e os sonhos seriam esquecidos.Ela sorriu. Fechou sua cortina e ficou imaginando sua vida por lá. Por horas. Foi aí que resolveu procurar seu melhor lugar do mundo de novo e quando abriu as cortinas, já havia anoitecido. Só que o sorriso não desapareceu. Lá estavam elas, as estrelas, simbolizando cada sonho realizado. Ficou analisando a infinidade delas e percebeu que, sim! Muitos sonhos são realizados. Quem sabe uma daquelas não era a sua? Mas qual seria? Não havia seu nome na estrela, mas sonhava com tanta intensidade que sabia identificar: era a que mais se destacava no céu. Ela não deixaria sua estrela parar de brilhar.

E se recebesse uma carta assim?

"Olá, como você acordou esta manhã?Eu observei e esperei, pensando que você falaria Comigo, mesmo que fossem apenas umas poucas palavras, para saber Minha opinião sobre alguma coisa, ou Me agradecendo por algo de bom que lhe aconteceu ontem.Mas, notei que você estava muito ocupado, tentando encontrar uma roupa que ficasse bem em você, para ir ao trabalho.Então, Eu esperei outra vez. Quando você correu pela casa de um lado para outro, já arrumado para sair, Eu estava lá. Seriam certamente poucos minutos para você dizer alô, mas você estava realmente muito ocupado.Você se deu conta de que tinha que esperar alguns minutos e os gastou sentado em uma cadeira fazendo nada. Estava apenas sentado.Então, vi que você se levantou rapidamente e pensei que você queria falar Comigo, mas você correu ao telefone e ligou para um amigo para lhe contar as últimas novidades.Eu vi quando você foi para o trabalho e esperei pacientemente o dia inteiro. Com todas as suas atividades, achei que você estaria realmente muito ocupado para dizer alguma coisa.Notei que, antes do almoço, enquanto esperava a refeição, você olhou ao redor, mas não foi dessa vez. Talvez se sentisse um pouco sem jeito ou com vergonha de falar Comigo em público.Vi quando você observou alguns de seus amigos fazendo uma breve oração antes do almoço, mas você não teve coragem.Tudo bem! O dia ainda não havia acabado e Eu tinha esperança que você falasse Comigo hoje.Você foi para casa e parecia que tinha muitas coisas para fazer. Depois que terminou algumas delas, ligou a televisão e gastou bastante tempo em frente à TV, curtindo a programação.Eu esperei pacientemente, outra vez, enquanto você jantava, e mais uma vez você não falou Comigo!Enfim, chegou a hora de ir para cama, chegou a hora de dormir...Pensei que, naquele momento, você se lembraria de Mim, ao menos para agradecer pelo dia que passou, mas você devia estar muito cansado.Depois que disse boa noite para a sua família, pulou na cama e dormiu rapidamente.Tudo bem, talvez você não soubesse que Eu estou sempre ao seu lado.Mas Eu tenho muita paciência. Muito mais do que você possa imaginar. Desejo ensinar a você como ser paciente com as outras pessoas e como ser bom.Eu o amo tanto que espero todos os dias um sinal seu, um simples gesto, uma curta oração, um pensamento de agradecimento...Sabe, meu filho, é muito difícil manter uma conversa sozinho, um monólogo. O bom mesmo é dialogar mas, infelizmente, você não se lembra de Mim.Bom, amanhã você vai se levantar outra vez para um novo dia. E mais uma vez Eu estarei esperando, talvez em vão, mas com muito amor para você, desejando que você possa dar-Me alguma atenção, um pouco do seu tempo. Tenha um bom dia!
Seu amigo, sempre presente, Deus."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Pela luz dos olhos teus"

Decidi que por algumas horas iria decifrar o olhar de cada pessoa que lhe passasse por perto. Iria observar, tirar a primeira impressão e dilatar minhas pupilas até o momento em que deduziria o que aqueles pares de olhos tentavam dizer ao cruzarem com os meus. Percebi alguns tipos interessantes.
O primeiro, olhar cabisbaixo, olhar que desejava não desempenhar sua função naquele momento. Era melancólico, desistente.Simplesmente não queria se abrir para a vida, mas sim se afundar debaixo de lágrimas. Deu algumas piscadas e se foi.
Havia também o olhar sereno. Manso, pacífico. Transmitia algo quase que misterioso ao mesmo tempo que era despreocupado e esperançoso.
Veio então o olhar rancoroso, vermelho. Estava sempre coberto pela sobrancelha, sua capa protetora que o diminuia. Ele não queria me fitar nos olhos, piscava demoradamente, até que esse ato tornou-se rápido à medida em que o par de olhos raivosos encontravam o olhar amoroso. Esse sim era belo. Era doce, respeitável e desfilava por uma passarela azul-piscina. Quando cruzou com o olhar rancoroso, o transformou. Este clareou-se, tornou-se vulnerável e desesperado, enquanto aquele, sem se desviar, se aproximou e se refletiu no olhar em metamorfose.
Passou por ali também o olhar desconfiado, direto em minha direção. Analisou o contorno do meu e fez pouco caso do que viu. Remexeu-se, procurou algo inexistente e misteriosamente largou sua busca.
O que fez o meu olhar ficar assustado e curioso mesmo, foi o olhar alegre. Este brilhava, piscava, dançava. Vagava em busca de algum que precisasse da sua luz. Fitou-me. Era tão lindo, tão grande... que de tão grande ficava pequeno dentro do seu espaço, pois o seu vizinho de baixo, o sorriso, queria crescer tanto que impulsionava as bochechas em direção a ele e assim lhe diminuia, e lhe aumentava de expressão. Então senti que aquilo era contagiante e que muitos ao observar aquele olhar, contraiam os mesmos sintomas. Inclusive eu.
Foi assim que concluí que o olhar, além de janela da alma, é o espelho principal do coração. Consigo desvendar o amor, o que se esconde atrás do rancor e o motivo de qualquer dor. Posso descobrir verdades, entender desconfianças e até deduzir um ar traiçoeiro. Posso até oferecer ajuda ou recusar alguma. Ou então, deixar-me levar por ele e ser conduzida à uma sensação. Mas mais do que isso, descobri que um olhar tem o poder da mutação. Ele pode muito bem causar uma transformação com um simples piscar ou um fitar envolvente. Ele acaba com relacionamentos ou solidifica um amor. Pode remexer-se a ponto de tontear quem lhe observa. Pode construir um mundo a partir das próprias interpretações e reagir através daquilo que enxerga. Pode ser engraçado, pode ser medroso, pode ser tristonho. Pode desmentir palavras, pode pedir desculpas, pode prever o futuro.
Basta um olhar e seu caminho está nítido.
"A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz". Mt. 6:22

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Além

Na verdade era tudo o que ela precisava. A noite chegara e com ela, as memórias de um dia tomado pelo caos. Mas eis que a chuva caía, caía na mesma proporção do turbilhão de pensamentos que atingiam sua mente. O desejo mais profundo naquele momento era que a chuva ao cair na calçada levasse consigo todo aquele mar de ilusões que lhe agoniava. Ela anseava que cada gota que beijava sua janela lhe trouxesse um sopro de esperança. Mais do que isso, se deixasse se levar pelo barulho calmante lá de fora, ela certamente iria deixar o mundo de lado e correria à chuva, pedindo que ela lhe levasse para longe dali ou que encharcasse o seu lado que doía. Só que ela estava em uma prisão interior. Poucos conheciam seu sofrimento. Ela não detinha forças para se render à chuva, sentia um resquício de inveja dela. Tão linda, tão clara, tão livre. Além de tudo trazia consigo a paz que ela tanto precisava. Ela queria conhecer mais a chuva. Queria saber o segredo que a fazia tão amiga do Sol: aquele astro tão imponente que arranca sorrisos das pessoas a cada vez que ameaça aparecer, mas que ao mesmo tempo doa seu lugar de destaque quando a chuva deseja dar o ar da sua graça. Foi então que ela respirou fundo e sentiu aquele cheiro de terra molhada e olhando para o céu, viu que o sol estava querendo seu posto novamente. Sem deixar sua amada ir embora sem despedidas, ela levantou-se subitamente, tirou os sapatos e correu ao quintal. Agora ela e sua amiga estavam entrelaçadas e dançantes. Foi então que sentiu que aquele era o primeiro grande dia do resto da sua vida. Encharcou-se de ânimo. Quando a música acabara, chegou o astro-rei e fez o favor de levar para si a agonia evaporada. Mesmo lhe ajudando, acabou afastando sua nova amiga para longe, mas não havia conseguido levar de sua roupa o perfume inconfundível.

Sem motivos.

Vou acordar. E hoje não quero ter motivos para apreciar o nascer do sol, nem para imaginar o que me reserva a rotina.
Não quero ter motivos para aprender algo novo, ouvir uma bela canção ou conhecer alguém que poderá ser especial um dia.
Não quero ter motivos para abraçar alguém, amar alguém, cativar alguém.
Não quero ter motivos para descobrir algo novo, inventar algo do meu jeito, transformar alguma coisa.
Não quero ter motivos para ler um bom livro, cantar desafinadamente e dar risada de coisas fúteis.
Não quero ter motivos para fazer meu dia durar uma vida e nem para entender que nessas 24 horas eu posso fazer algo renascer ou matar alguém por dentro.
Não quero ter motivos para ver que a chuva foi feita para dançar e para molhar a terra num sinal de renovo.
Não quero ter motivos para arrancar de mim tudo que me faz mal, expulsar meus problemas e fazer uma faxina interior.
Não quero ter motivos para correr, andar descalço e sorrir para as nuvens.
Não quero ter motivos para gritar com intensidade as palavras que me vierem à cabeça e nem para me importar com quem está ouvindo.
Não quero ter motivos para me importar com quem ouve o que eu digo e nem para guardar os conselhos por menores que sejam.
Não quero ter motivos para experimentar planos totalmente invertidos dos meus.
Não quero ter motivos para deitar-me e pensar que apesar dos contratempos eu vivi. E talvez seja o único motivo que desejo carregar comigo constantemente: eu simplesmente vivo. Na intensidade que eu quiser e contra todos os motivos que me impedem disso.

E foi assim que aconteceu...






E de repente eu descobri o que era. Chegou sorrateiramente, fez uma visita inesperada. Invadiu o ambiente, tomou conta do meu piscar e sem sequer eu perceber, tinha adornado meus pulsares. De maneira mansa começou a bambear minhas pernas, controlar meus atos de maneira imponente e me lançar contra meus pensamentos. Chegou a ter acesso ao meu tempo e regular os minutos com argumentos vis e convincentes. Era pequeno, mas possuía um domínio de mim que extrapolava todas as minhas forças e quando eu queria ser crítica, me mandava se calar. Quando eu reuni, pacientemente, minhas convicções para afastá-lo, me tomou como uma marionete e decidiu por mim que a partir daquele instante, cresceria e tiraria sua vitalidade da minha espontaneidade. Sussurrou que daquele momento em diante, eu afastaria os obstáculos que o impediam de entrar no lugar mais importante de mim e que eu arrancaria os hóspedes que até então moravam ali. Eu não quis. Gritei a plenos pulmões que eu apreciava quem estava ali, que cultivava a anos um local aparentemente belo, caprichoso, com um ar requintado e que não me incomodava, muito menos me forçava a agir de forma involuntária. Um local que eu mantinha quem eu queria, como queria e asseava do meu jeito. Só que simplesmente não quis me ouvir. Continuou a me manipular e impulsionar com cada vez mais força aquela porta trancada, querendo entrar, quereno entrar, querendo entrar naquele lugar quase que perfeito para sua moradia. Exausta, com um ar patético e infantil, dei-me por vencida. Ou quase. Resolvi lhe dar a chave da porta para que se hospedasse por lá até eu me refazer e conseguir expulsá-lo de vez. Concordou pacificamente. Ele entrou finalmente, como tanto queria. Só que, mesmo contra a vontade, está tendo que conviver com outros hóspedes meio incômodos a ele e por isso, mostrou a sua verdadeira personalidade. É dócil, gentil, é pequeno mas age como um gigante. Continua me manipulando. Só que mais intensamente. Continua dominando meu querer e regula tudo o que faço. Me faz agir inconscientemente na maioria das vezes, mas não é por isso que o quero distante. Hoje eu quero esse domínio que eu aprendi que também posso dominar. Hoje eu quero ter isso no meu lugar mais especial que me faz sorrir espontaneamente e sem motivos. Hoje eu quero meus pensamentos aliados aos dele. Hoje eu quero que os vizinhos dele decidam por si só se querem sair ou não, eles estão lá. E... eu gosto deles. Mas meu hospedeiro favorito não. Enquanto isso, a insegurança, o medo do incerto e o improvável estão aproveitando a residência. Até o Amor resolver trazer suas bagagens de vez e não lhes dar mais espaço.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um pingo na imensidadão da chuva

E cá estou eu de novo com a idéia vaga de começar um novo blog e expressar as minhas idéias como sempre quis fazer. Talvez não adiante muito ou não expresse tanto, mas nunca é tarde pra recomeçar. Entretanto meus devaneios e sensações precisam ser colocados em algum lugar fora do pensamento, embora eu não esteja bem preparada pra isso, mas sim muito longe de brilhar com palavras. Elas me encantam. Acho que isso já é motivo suficiente para eu personalizar um cantinho da internet com a minha cara e meu jeito, sem preocupações públicas. Um pingo no meio de uma chuva, boa pra uns, inútil pra outros.