sábado, 17 de julho de 2010

Me casaria com seu universo em gelo
Celebraria todas as vezes em que o seu desespero
Se remetesse a mim
Mas ainda espero acalmar esse vulcão
Essa expressão latente, sintomática e quente
Uma água ardente para aquilo que se chama
Morrer de Amor
Uma ignorância de peça interpretada
Um sorriso que não passa de encenação
Assim você arrebata um corpo, uma orquestra ritmada
Notas dedilhadas em pulsação
Em mim as suas ondas quebram, você delira
Recolho sua febre, inspiro seus suspiros
Não resta nada a não ser voar ligeiro
Àquele nevoeiro que é te entender.

sábado, 22 de maio de 2010

Ressaca

Brilhem, águas!
Reflitam minhas palavras
que caem
Na cachoeira, no mar, nos rios que saem...


A sensação de os versos secarem
as rimas afundarem
gritos, mágoas
Sortudo o marinheiro! Lança tudo às águas


E quem disse que eu não o sou?
Sou do seco, do molhado e até voo
Minha sensibilidade não se ata a pavio
Nem o que penso é assim, tão vil


Meu canto é onda serena
Trêmula, sob voz amena
Deixe que ache por si a sua certeza
E siga o embalo da correnteza
Deixe que corra, que se faça arte
que se cristalize, que encontre sua parte


deixe que seja livre o curso da minha água



Parte de areia, concha, estrela, luar

Parte de sereia, encanto, música,

ah-mar!

sábado, 17 de abril de 2010

Numa essência

Um sopro tênue e a formação da vida
Numa sombra de harmonia no jardim de vento
O que importa é a realização do que chamamos de ida
E pra você fica o encargo de regular o nosso tempo

Um sopro de suave brisa
E assim a consciência do momento fantástico
Algo inconstante, inesperado que frisa
Que o que se vive não tem nada automático

Mesmo assim nosso paraíso do genoma
Anda sendo desvirtuado, colocado em leis
E aquilo que chamamos de coração entra em coma
E aqueles que nos derrubam viram reis

Uso as decepções para seguir em frente
Uso o silêncio para neutralizar o incalável
Uso a serenidade para fingir ser gente
Uso o amor para me sentir improvável...

...num salto de melodia que compõe versos inaudíveis
...à beira de um palco, estou sempre à mercê
...encantada, esperando detalhes incríveis
...de você.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Navego por essas beiras. O que será que quero ser quando sair daqui? Ser areia ou ser mar? Ser aquele tapete felpudo formando de incontáveis momentinhos, um tapete moldável por qualquer circunstância: que faz e se refaz a qualquer instante. Ou posso escolher ser o tapete imensurável, que tal? Serei regulado apenas por um astro maior, abrigarei vida e servirei de refúgio de amantes. Teria constantes movimentos que oscilariam sempre, mas nunca deixariam de ser diferentemente único.
Eu olho para meu espelho ondulado, naquela faixa areia-mar e me deslumbro. Posso ser antes de mais nada aquilo que me existe por dentro. Não sou de ninguém e nem parecido. Nem se tento me comparar ou mensurar a minha importância pra alguém, tudo será falho. Não sou meu RG ou qualquer outro documento que prove a minha existência. Você sou aquela que se entrega a alguém, eu sou minha. Não sou o momento perdido, nem a dor que sofro ou a alegria que conquisto. Sou invisível ao mundo e perceptível só pra mim mesma. Uma mescla de sensações, sentimentos, pensamentos, respostas, perguntas, fracassos, maldades, sabores e histórias: tudo reunido num baú feito de areia que a qualquer hora pode ser abalado por uma onda e ser refeito. E por ser assim, tão indefinível, sou ilimitada como o mar, um romance em eternas reticências, uma onda em eterna oscilação.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

É segredo.

O que lhe fazia ter mais medo do que tê-lo revelado? Os amantes mais experientes sempre lhe ensinaram que o sentimento da paixão era o mais avassalador e arrebatador, a mais deliciosa das sensações. Mas e quando ela era mantida no seu íntimo e não poderia ser revelada?
Ela vinha com a promessa de desafiar a pacífica lógica da razão e desabrochar como um delicado botão de rosa. Mas e quando a tal flor trazia consigo espinhos que despertavam a inquietação do manso coração e provocava-lhe taquicardias que não poderiam ser externadas?
Talvez sejam seus acúleos que afastem a utopia do amadurecimento dessa paixão ao tão distante amor. Talvez seja essa distância quem o convença a se contentar apenas com o brilho da lua que não esconde os devaneios e quem sabe um dia ele aprenda com ela a se deixar levar por essa maresia nauseante do romance. Enquanto isso ele vai se escondendo por detrás da imensidão da sua inquietação, fingindo passar por despercebido por entre as pistas deixadas pela amada. Um instante detalhado e tudo que se julgava efetivado pode ser mudado.
Quem sabe um dia. Ahhh, um dia. Um dia ele conta seu segredo aos quatro ventos para que eles o conduzam até os ouvidos dela. Um dia ele vira confissão.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Meu anjo meu

Caso, por algum desses dias, um anjo diferente esbarrar em você, deixe. Só estará na missão de conhecer o seu amor e trazê-lo até o meu.

Afinal, cada anjo é cupido de alguém. Se ele lançar um dardo mirando em mim, certamente acertará em ti também.

Assim, dançarei no seu infinito. Mesmo que ele tenha fim algum dia, nosso anjo não irá se entristecer. Saberá que amamos e então sorrirá. Saberá que nos emocionamos e então viverá, bem mais do que dá.

Nosso anjo nos acompanhará e mesmo se resolvermos ir na contramão do amor, ele nos pegará pelos versos e nos alinhará no pequeno universo de nós, guiará à sua voz.

Doce será esse momento e quero, repito, suplico que seja doce. Mesmo que vagamente eu saiba o que me seria algo tão agradável, só respondo que preciso dessa vida adocicada, preciso ser amada.

Depois pode deduzir a nossa história. Me deseje um conto de fadas, algo com uma lição de moral romântica, algo maravilhoso e algum anjo para desenhar alguma nuvem de algodão na imensidão do céu e escrever nosso romance, algum anjo que dance conosco.

Algum anjo que nos parta em duas metades: uma que voe alto, outra que mergulhe fundo, que alcance o mundo.

Para o fim, andaremos aos trancos, procurando as provas do nosso anjo comum. Vasculharemos nosso baú de sonhos atrás do cupido que indicou o início da nossa viagem rumo ao olhar mútuo, àquele mar enluarado que engoliu nossos dramas e nos purificou dos devaneios, que abriu caminho às ondas dos seus versos sobre as estrelas do mar-céu.

E assim, enquanto houver sol, nosso anjo nos cobrirá com o manto que te condiz, e lhe direi que para sempre eu fui feliz.