quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Navego por essas beiras. O que será que quero ser quando sair daqui? Ser areia ou ser mar? Ser aquele tapete felpudo formando de incontáveis momentinhos, um tapete moldável por qualquer circunstância: que faz e se refaz a qualquer instante. Ou posso escolher ser o tapete imensurável, que tal? Serei regulado apenas por um astro maior, abrigarei vida e servirei de refúgio de amantes. Teria constantes movimentos que oscilariam sempre, mas nunca deixariam de ser diferentemente único.
Eu olho para meu espelho ondulado, naquela faixa areia-mar e me deslumbro. Posso ser antes de mais nada aquilo que me existe por dentro. Não sou de ninguém e nem parecido. Nem se tento me comparar ou mensurar a minha importância pra alguém, tudo será falho. Não sou meu RG ou qualquer outro documento que prove a minha existência. Você sou aquela que se entrega a alguém, eu sou minha. Não sou o momento perdido, nem a dor que sofro ou a alegria que conquisto. Sou invisível ao mundo e perceptível só pra mim mesma. Uma mescla de sensações, sentimentos, pensamentos, respostas, perguntas, fracassos, maldades, sabores e histórias: tudo reunido num baú feito de areia que a qualquer hora pode ser abalado por uma onda e ser refeito. E por ser assim, tão indefinível, sou ilimitada como o mar, um romance em eternas reticências, uma onda em eterna oscilação.