sábado, 17 de outubro de 2009

Somewhere over the rainbow

Vivia numa neblina cinzenta introduzida numa prisão aberta. Ela queria sumir dali. Simplesmente queria tecer um fio inflexível do seu recomeço e estendê-lo até a janela de algum lugar bem longe. Era esperançosa, ávida, corajosa. Possuía toda a capacidade de erguer-se ante qualquer situação que tentava lhe derrubar. Sabia que passava por um momento transiente, mas não possuía a obrigação de se acostumar com aquilo, apesar de saber que uma mudança estava distante dos planos daqueles que diziam estar sempre com ela. Por essa razão ela sentou-se na sua cama e arquitetou por horas um lugar que seria o melhor do mundo. Será que existia? Um lugar que aninhava uma multidão de pessoas todas ligadas por uma amizade e um elo familiar de verdade? Um lugar sem mágoas, sem rancor, sem pressões? Um lugar onde ela poderia brincar o dia todo, falar alto e não se preocupar com métodos?Certa vez ela ouvira falar que existia um lugar assim, dos sonhos. Mas era longe, atrás das nuvens. Lá moravam anjos e um Ser Superior muito amoroso e acolhedor. Era para lá que queria ir, mas sabia que ia demorar um pouco. Então imaginou o seu melhor lugar do mundo aonde ela iria viver intensamente.. Mesmo sabendo que era apenas pelos próximos minutos, se conformou com a idéia de viajar no pensamento e buscar um ânimo que a faria encarar a realidade em seguida. Foi o que fez.Pensou, pensou, planejou, mediu, sonhou. Mas nada. Nenhum lugar se encaixava nas suas condições. Meio que sem paciência, ela desistiu e ficou olhando o teto, ao som da chuva que ia cessando devagarinho. Aquele som a fez levantar, abrir sua cortina e contemplar a imensidão celeste. A chuva quase que imperceptível foi sendo abraçada pelos raios do sol, montando um lindo cenário. Mais fascinante ainda foi quando o Sol, afastando mais as nuvens, trouxe consigo a maior aliança que a garota já havia conhecido. Era surpreendentemente monumental, percorria todo o diâmetro do local e o coloria sutilmente, como um lindo arco que brilhava na sua íris.Ela lembrou-se da história que sua avó lhe contava sobre ele. Dizia que além daquela paisagem estava um pote de ouro. Se havia um pote de ouro além daquela estrutura tão magnífica, então imagine o quão bonito não era lá? Imagine os moradores? E o clima amável que não se concentrava por lá?Sim, ela havia achado o seu melhor lugar do mundo: além do arco-íris. Era ali que o vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e o violeta iriam se refratar nela, fazendo seu coração brilhar e projetar a felicidade. Ela iria descobrir que aquele pote de ouro era a riqueza do lugar e ali se depositava todos os sonhos de cada um dos moradores para que, cada vez que o arco-íris resolvesse aparecer, alguém do mundo lembrasse que eles existiam e que um dia sairiam dali para se realizar e virar uma estrela no céu. Além disso, ela iria aprender que o arco-íris é raro pelo simples fato de ser considerado especial e que se fosse para aparecer rotineiramente, perderia seu encanto e os sonhos seriam esquecidos.Ela sorriu. Fechou sua cortina e ficou imaginando sua vida por lá. Por horas. Foi aí que resolveu procurar seu melhor lugar do mundo de novo e quando abriu as cortinas, já havia anoitecido. Só que o sorriso não desapareceu. Lá estavam elas, as estrelas, simbolizando cada sonho realizado. Ficou analisando a infinidade delas e percebeu que, sim! Muitos sonhos são realizados. Quem sabe uma daquelas não era a sua? Mas qual seria? Não havia seu nome na estrela, mas sonhava com tanta intensidade que sabia identificar: era a que mais se destacava no céu. Ela não deixaria sua estrela parar de brilhar.

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